...Este dia foi quando eu tinha sete anos.
Zé, meu irmão novinho, chorava...chorava igual bezerro desmamado. Não entendia porque ele não se aquieta nos braços de mainha.
Mãe, coitada, balançava ele de tudo quanto é jeito, mas não tinha jeito!
Foi quando eu vi que o que não tinha mesmo...era leite.
Zé tinha fome.
E mãe chorou...Eu nunca tinha visto mainha chorar. na minha cabeça de sete anos as imagens se misturavam..mainha chorava...eu nunca tinha visto ela chorar...e tudo parecia bem confuso...mainha chorava e era isso que prendia minha atenção...e todas aquelas imagens e sensações eraam muito novas na minha pequenina cabeça de sete anos... era o choro de zé, a agonia de mainha, aquele calor do sertão...e a fome...então eu descobri que aquele choro de mainha...eu achei bonito. "É água!! É água!! olha alí..é água escorrendo dos olhos de mãe!!" então eu rapidamente planejei tudo:
- Mãe, bate neu?
-Oxe, menino, tá doido?
-vai mãe, bate neu!! bate que eu choro! se eu chorar a gente junta a água que tá saindo da gente...eu encho o balde e mato a sede das plantas! ai a macaxeira nasce, eu vendo no boteco e compro o leite de Zé!
um silêncio estranho.
um olhar estranho de mainha.
minha alegria inocente.
Mãe chorou mais. Só que aquele choro no rosto de mãe...
aquele choro não foi bonito não.
Lá, naquela cidadezinha árida...morava essa familia.
Lá, onde tudo parece não ter vida, até o vento chora.
e mesmo ele, que é vento, é quente.
mais a vida...ela existe. e persiste. Existe principalmente na fé do garoto de sete anos...Mas a vida arde...
A água que escorre dos olhos,
não é água de lavar,
água dos olhos é choro,
e é choro de não ter mais o que faltar...
Crônicas que não se contam, 1. - água dos olhos. Thacilla Noronha.
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